A Intimidade com Deus brota do desejo de encontrá-Lo, de falar com Ele e de buscar Nele o sentido e a direção para nossa caminhada. Muitas vezes, queremos conduzir nossa oração com nossas próprias forças, com os nossos propósitos e intenções; muitas vezes, dizemos que temos oração, mas para Deus não a temos, afirma São João da Cruz. Não a temos por que não somos íntimos. A intimidade com Deus consiste em fazer com que a nossa oração seja conduzida pelo Espírito e não por nós mesmos. Devemos sair do leme e deixar que o Espírito Santo conduza a nossa oração.
Nosso único trabalho na oração consiste em deixar o Espírito Santo fazer e assumir a direção da nossa oração. É uma oração mais passiva do que ativa. A nossa oração consiste no abandono de trabalharmos menos e deixar Deus trabalhar em nós.
Existem três dimensões desta Intimidade com Deus: 1º) Diálogo: é quando eu e Deus falamos alternadamente. Eu falo e Deus fala; 2º) Dueto: é quando eu e o Espírito Santo oramos juntos, é a oração inspirada pelo Espírito Santo; 3º) Monólogo: é aquela que só o Espírito Santo ora em nós. E quando percebemos a unção interior, percebo que Deus está operando em mim, minha participação consiste em apenas dizer: Amém! Uma oração de abandono. Não compreendemos, só consentimos. Não significa que uma é mais que a outra, em nós existe alternância destas dimensões.
A oração na carne é um risco para as pessoas que rezam. Significa uma oração sem intimidade com Deus. Aquele que ora, muitas vezes se depara com muitos enganos na sua vida de oração, e grande perigo é não perceber estes enganos que o envolve sutilmente. Como diz Santa Teresa d’Ávila, a vida de oração tem muitos enganos.
Para descobrirmos se estamos trilhando o caminho desta intimidade, é necessário observar alguns pontos, se existe subordinação em minha oração. Perceber se quando eu rezo em seguida procuro colocar em prática. Buscando conhecer os desígnios de Deus, e colocá-los de forma concreta em minha vida. Através da minha liberdade, abro o meu coração, e aceito o “direito” que Deus tem de intervir em minha vida. Quem ora em subordinação está disposto a tudo. Dou liberdade a Deus para mudar os meus planos, meus projetos, minha vontade, como vemos em I Timóteo 4,8.
Também é necessário que o barco da nossa oração ande não segundo a força do remo, mas segundo a força do vento, a força do Espírito. A vela é a nossa oração, a vela vai mudando a posição para ficar em direção do vento e ser conduzida apenas por Deus. Quanto ao que quiseres rezas. Quando mais fores tentado, reza. Na oração do homem bíblico, o componente fundamental é a confiança e ousadia, mas, ela é profundamente submissa a Deus e a Sua vontade.
Se queres possuir a Deus, tens intimidade com Ele. Se queres a fé, tens intimidade com Ele. Se queres a caridade, tens intimidade com Ele. Se queres a esperança, tens intimidade com Ele. Seja qual for a virtude que aspirais, tens intimidade com Ele, diz Santo Agostinho. Isto significa que a oração verdadeira me leva a esta intimidade, algo que não depende das minhas forças, pois poderíamos nos vangloriar, mas é pura obra do Espírito Santo que age na medida que encontra um coração empobrecido e consciente de sua limitação e impotência.
A intimidade com Deus é como a respiração da alma. Se queremos ter uma vida de profunda intimidade, é necessário a decisão e a determinação do nosso ser, não no sentimentalismo, mas na convicção gerada e amadurecida no espírito profundo de contrição.
Nosso maior problema é achar que sabemos o que pedir a Deus. Não sabemos orar, afirma São Paulo. É como a história de um velho camponês que almejava se encontrar com o rei para fazer um pedido importante para sua vida. A vida do camponês era lutar para falar com o rei. E quando ele consegue estar diante do rei, em vez de pedir algo precioso, pede só esterco. Pedimos coisas erradas, pedimos esterco. Trocamos o essencial, pelo passageiro, por isso precisamos do Espírito Santo, pois não sabemos pedir. Meu coração deve estar voltado para as coisas eternas, e não para as coisas passageiras.
Temos os exemplos dos homens orantes bíblicos, eles tinham uma oração confiante e ousada, mas profundamente submissa a Deus. Confirmamos em Genesis 18, 22-32 Abraão tinha uma oração ousada. Ele está sempre disposto a fazer a vontade de Deus, pois era amigo de Deus.
Em Êxodo 33,11 e 32,7-20 Deus prova a Moisés. Diante de Deus ele defende o seu povo e diante do povo defende a Deus. Só se pode corrigir o povo de Deus, se diante de Deus se suplica por este povo. Quando estamos prontos a perder a nossa própria salvação a favor do próximo, teremos todo respaldo diante de Deus, pois encarnamos o Projeto de Deus para toda criatura.
Para Deus, o mais importante é o que o homem é, e não o que ele diz. Não agrada a Deus as palavras que são ditas na oração, quando elas não brotam das intenções do seu coração, pois, é do coração do homem que vem a força, que gera esta intimidade com o próprio Deus. Uma força que sabemos de quem vem… do Espírito Santo. O homem bíblico sabe que mesmo na provação não será desamparado.
Por último, precisamos estar sempre vigilantes, pois aquele que é íntimo de Deus está sempre a vigiar os enganos do inimigo, com o intuito de desfazer esta amizade. E o grande engano é confiar em si mesmo, nas suas virtudes, nas suas obras de caridade, na sua inteligência, na sua fidelidade, na sua potencialidade, acreditar que a sua oração é perfeita e que chega até Deus. Esta é na realidade a oração do hipócrita, a oração que é condenada por Deus.
O hipócrita enche os seus lábios para louvar a Deus. Ele tem muitas coisas para dizer a Deus. Ele usa a Deus. O seu coração não está rendido a Deus. Todos os dias ele pode está no louvor, na missa, na oração, nas reuniões, mas o seu coração está longe de Deus. O homem de oração hipócrita, o seu coração contradiz os seus lábios, ele quer instrumentalizar as palavras. Ele é um escravo oportunista. É a oração do escravo e não a oração do amigo. Ele pode enganar os homens, mas não a Deus. (Isaías 29,13)
O olhar de Deus penetra naquele que é íntimo, que reza com o coração, vai além das suas palavras e procura a sinceridade do coração. Deus detesta aduladores, mas, por outro lado, ama aqueles que tem os corações rendidos. A sinceridade não é sentimento, é a vontade rendida a Deus. Diz Nosso Senhor Jesus Cristo: “Não vos chamo de servos, mas sim de amigos” – E para ser amigo, precisamos conhecer, cativar… não falar de Deus, mas falar com Deus, esta é a INTIMIDADE que agrada o Coração de Deus.
Valdo – Comunidade Shalom